Palavras do Dir. Espiritual - Pe. Cristiano

Palavras do Dir. Espiritual - Pe. Cristiano

   

O VALOR DA RELIGIÃO EM NOSSA VIDA

 

            Nesta pequena reflexão, quero, a partir do princípio antropológico da dimensão transcendental no homem, analisar a base pela qual a Renovação Carismática Católica da Diocese de Bom Jesus do Gurguéia fundamenta a sua evangelização: a suma importância da religião.

            É sabido por todos nós que estamos numa crise global que tem reflexos em nossa vida local (pessoal, profissional, familiar, social, política, ecológica e econômica), por isso creio que é de fundamental importância para todos nós perceber o valor e o significado que a religião exerce no cotidiano de nossa vida. Diante de uma sociedade materialista (CF 2010), apegada ao dinheiro, poder, sucesso e prazer, é imprescindível redescobrir que a relação com Deus nos leva a buscar a felicidade dentro e não fora de nós mesmos. Existencialmente, Agostinho de Hipona afirma que “o coração do homem ficará inquieto e angustiado enquanto não descansar totalmente em Deus”. Psicologicamente, Jung diz que “todos os problemas psíquicos estão ligados a ausência de Deus ”. Socialmente para Gandhi “se o homem progredir espiritualmente, toda a sociedade progride com ele e se o homem cai, toda a sociedade cai em igual medida”.  Ecologicamente para o teólogo Leonardo Boff “desenvolver o espírito do cuidado pelo meio ambiente é conseqüência de uma relação profunda e verdadeira com Deus”.  Cientificamente, Einstein conclui que “o universo não pode ser explicado satisfatoriamente sem Deus”. Destarte a religião procura nortear e dar um sentido à todas as dimensões de nossa vida.

            A palavra religião, de origem latina “religare”, significa “amarrar” ou “religar”, quer dizer, estabelecer uma relação, uma ligação intensa, profunda, livre e responsável. O ser humano se “amarra”, se liga a Deus e Deus se relaciona com ele de modo amoroso (Jo 3, 16-17). Por isso a religião se refere a uma atitude de relacionamento entre dois personagens: Deus e o homem. A religião é, incontestavelmente, parte de nossa vida integral (At 17, 24-31). Isto não quer dizer que todas as pessoas são profundamente religiosas. Pois como acontece com a arte e outras manifestações humanas, a religião não afeta a todas as pessoas da mesma forma e com a mesma intensidade. Todas as pessoas são capacitadas para ler e escrever, mas nem todas são letradas.

            Podemos assim afirmar que pertencem a uma religião as pessoas que assumem determinada postura religiosa. O fato de partilhar das mesmas crenças ou da mesma fé cria, necessariamente, estreitos relacionamentos entre as pessoas (Jo 13, 34-35). Portanto, a experiência religiosa pessoal precisa transbordar numa comunidade. E a comunidade precisa ajudar na experiência religiosa de cada pessoal (1 Cor 12, 12-13). Esta relação cria vínculos de compromisso de solidariedade, ou seja, “re-liga” a comunidade, as pessoas entre si e com Deus (I Jo 4, 20-21), cria vínculos de afeto, de espiritualidade (Lc 11, 1-13), de comunidade. Este é o sentido essencial da religião.

            Mas, como isso acontece? Uma religião para atender a essa finalidade, possui um conjunto de elementos: mitos, ritos, festas, símbolos, normas de conduta, instituições, etc. que exercem a função de “amarrar” ou de retomar o que realmente é importante na vida (Fl 3, 7-11).

            Neste sentido, é muito importante distinguir religião de fé. A é adesão pessoal, individual a Deus, confiança n’Ele e aceitação da sua Palavra. Já religião é manifestação coletiva de fé. Esta manifestação tem duas dimensões: ritual (através de ritos, dogmas, etc.) e ética (prática da justiça, fraternidade, etc.). Ambas andam de mãos dadas (Lc 10, 29-37; Tg 14,26) e são critérios suficientes para a salvação (Mt 25, 31-40).

            O problema da religião, muitas vezes, está em supervalorizar o ritual, descuidando da dimensão ética. Esta é a crítica fundamental dos profetas. Deus não quer rito pelo rito, mas quer a prática da justiça: “pois eu quero amor e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais do que holocaustos” (Os 6,6).

            Afinal, separar religião da vida, é dividir o ser humano, torná-lo desorientado ou esquizofrênico, pois a função da religião, em todas as sociedades e culturas humanas, é conferir unidade e sentido à vida (Jo 8,32).

            A religião “amarra” este mundo perceptível ao outro mundo imperceptível e eterno, que foge do desgaste do tempo e dos acontecimentos (Jo 10,10). A religião acaba também “amarrando” os seres humanos entre si e propondo valores e ideais que se tornam patrimônio comum, como: honestidade, solidariedade, humildade, amor, respeito, diálogo, perdão, etc.            (I Cor 13, 1-13).

            A religiosidade é, sem dúvida, a dimensão que mais dá sentido à vida do ser humano e que não o deixa virar máquina, número. O fato de cada povo ou grupo ter uma religião, nada mais é do que aceitar uma expressão religiosa que depende da história de cada povo e de cada pessoa. Em tudo isso, porém, não deve ser excluído um plano especial de Deus para a humanidade.

            O historiador norte americano Huston Smith, no estudo de todos os fenômenos religiosos do mundo, afirma, categoricamente, que “todas as religiões têm em comum, o amor”. Todas procuram viver a Regra de Ouro: “não faça aos outros o mal que você não deseja para si mesmo”. Ou em sintonia com o filósofo Kant, que disse resumidamente: “em tudo, faça o bem e evite o mal”. Infelizmente, aos poucos, vamos fugindo desta regra importantíssima. Por isso estamos, holisticamente, num grande mal estar civilizacional. O tempo urge! Diante desta crise que estamos imersos, a experiência de volta ao Primeiro Amor se faz necessária (Ap. 2,4).

            Porque quero convidar todos os católicos da nossa diocese para apoiar a RCC e procurar fazer uma experiência espiritual, comunitária e ética com o Deus de amor (1 Jo 4,8).

Paz e Bem!

Padre Cristiano B. de Moraes

Pároco de Redenção do Gurguéia – PI

E diretor espiritual da RCC na Diocese de Bom Jesus do Gurguéia. 

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